Mundos Paralelos

domingo, 24 de março de 2013



Texto redigido por mim e que, não necessariamente, é um fato de ficção. 


Eu a vi subir umas duas paradas depois da minha. Aliás, dentro de um ônibus as seis e meia da manhã, lotado e com muitas outras pessoas a subir e descer durante o trajeto de quase uma hora até o meu destino, é quase impossível deixar de notar as pessoas que sobem e descem. Mas com ela foi diferente.
Quis chegar próximo logo de cara. Talvez perguntar as horas; quem sabe ela me pedia para abrir alguma janela, ou coisa do tipo... Seria um início de conversa! Mas se eu fosse lá de cara, muito provavelmente ela notaria as minhas intenções. Afinal, essa era a atitude típica dos que possuem “tarado de ônibus” estampado na testa, daqueles que se aproximam da moça e parecem iniciar a prática do coito via transferência de odores. Era uma coisa não muito bonita de se ver, e que beirava a irracionalidade. Não, definitivamente eu não sou dessa estirpe, então tive de me aproximar com calma.
O bom de não chegar logo era que eu poderia bolar melhor os argumentos, organizar as cenas, de repente até dava tempo de salvar uma lista de músicas favoritas no telefone. E foi umas cinco paradas depois, cerca de 20 minutos após ela subir no ônibus que me aproximei.
Ela era linda. Os cabelos escovados se faziam dourados ao serem banhados pelos raios do sol que entrava pela janela. Seu rosto de neve parecia que iria derreter em uma poça delicada de perfeição, escorrendo pelos óculos redondos que ostentava lindamente em sua fronte.
Imaginei dando bom - dia. Ora, sou um cavalheiro, e esse é o comportamento de um! Imaginei a saudação e imaginei as possibilidades de resposta baseados no possível humor dela para aquele momento; foi como viajar por mundos paralelos onde, em cada um deles, a realidade se espelhava e acontecia algo diferente. Em uma delas eu lhe perguntava as horas e recebia como resposta um beijo cinematográfico, de fazer todos no ônibus se entreolharem. Em outro ela me dizia as horas, recebia o número do seu telefone e ela ia embora. Eu ligava para ela em seguida, nos encontrávamos e, dois meses depois, estávamos casados... e por ai vai.
Dei sinal. 
Desci. Ela desceu junto.
Cada um foi para um lado diferente.
Nunca mais a vi. 

PS: Música sugerida para acompanhar a leitura: "Duvet" (Boa)


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