[RESENHA] A VOZ DO FOGO (Alan Moore)

sexta-feira, 11 de outubro de 2013


Um dos mais polêmicos autores da atualidade, Alan Moore mostra toda 
a suaversatilidade na arte de contar histórias. Em 2012 chegou as 
lojasa versão tupiniquim de seu livro A Voz do Fogo, o qual
o blog Loucamente Loucamente tem o orgulho
de vos apresentar a partir de agora. 

Eu não sou o maior fã de Alan Moore. Na verdade, o meu caso com o homem que trouxe ao mundo histórias fantásticas como Watchmen e V de Vingança é bem mais sinuosa; afinal, embora eu não ser seu fã não quer dizer que eu não reconheça nele um gênio; que eu não leia suas histórias ou que eu me prive de, no fim delas, com um sorriso desfarçado no lado esquerdo da boca, eu fale disfarçadamente que "esse cara é f..." (perdoem-me o palavrão).

Assim é a minha relação com esse inglês de Northamptom, nascido em 1953. Fora ele o precursor da "migração inglesa" de quadrinistas ao restante do mundo, que acabou nos apresentando caras como Garth Ennis (Preacher), Warren Ellis (Authority), Grant Morrisson (Batman - Asilo Arkham) e Neil Gaiman (Sandman). 

Certa vez, em minhas andanças pelas livrarias me deparei com o que eu julguei que seria a prova de fogo para Moore: o seu primeiro - e até agora único - livro: A Voz do Fogo (Editora Veneta, 2012). E por que para mim essa seria a prova de fogo proposta a Alan Moore? Bem, primeiro por que eu já conhecia um pouco de sua dinâmica de trabalho na elaboração de seus roteiros - permeados por um detalhamento que beira o absurdo -, e gostaria de ver como ele se sairia nas narrativas mais diretas. E em segundo por que ele, mais uma vez, centrava-se em sua amada Northampton, o que poderia tornar a história simplória demais. 

Logo no prefácio nos é apresentado um belíssimo texto introdutório escrito por Neil Gaiman. Lendo esse texto eu me senti no meio da conversa entre dois bruxos, cuja sabedoria secular e a compreensão de tempo e espaço era inconcebível para mim, um mortal. Perfeito. 

O livro é um compêndio de doze contos que, como citei anteriormente, se passa em Northamptom. E ai eu tive a primeira surpresa: a cidade, na verdade, é a personagem central de tudo! Desde o primeiro conto, cujos acontecimentos datavam 4.000 a.C. ao último, em 1995 d.C., Northampton é modificada, assim como seus personagens vão nascendo e morrendo, indo e vindo. É como se Moore conseguisse comprimir quase 5.000 anos em pouco mais de 300 páginas! Bruxaria pura!!!

Os dois primeiros contos são os de maior destaque. No primeiro, "O Porco do Bruxo", Moore cria uma versão arcaica e desorganizada do inglês, sem tempos verbais e com termos que exigem paciência e esperteza para serem devidamente compreendidos, levando ao leitor uma representação de como seria a organzação do pensamento de um ser que viveu a 4.000 a. C.. O conto narra uma forma de xamanismo antigo, e um processo que deu início ao marco místico da cidade: o sacrifício ritual.

O segundo conto "Os Campos de Cremação" (2500 a. C.) é mais organizado e compreensível, e é construído como uma história de mistério que se torna potencialmente mágica, com um bruxo que - como Moore revela ao final - é uma espécie de espelho dele próprio.

A partir daí vemos um pouco de tudo: bruxas queimadas na fogueira, cabeças decapitadas falantes, as influências de um mitológico Guy Fawkes, a chegada dos nórdicos e a estranheza dos templários. O final ainda reserva um dos momentos metalinguísticos mais brilhantes da literatura.

Alan Moore: Um misto de gênio e Monstro do Pãntano. 

Na minha opinião...
O livro é brilhante. Alan Moore, sem dúvida é um dos maiores contadores de histórias do século XX. O modo como descreve os fatos, como envolve o leitor, como brinca com as simbologias ou como estrutura os conceitos - chave das tramas é tão genial quando passada na forma de contos quanto a apresentada no roteiro de seus mais famosos quadrinhos.

Ainda, "A Voz do Fogo" é um livro difícil.  Ele exige dedicação e atenção do leitor a todos os fatos e momentos; mas conseguir adentrar no cerne das tramas, de mergulhar e aceitar ser levado pelas correntes que movem o tempo e as palavras nesse livro se torna extremamente  gratificante,  revelando a visão de Moore do Ocultismo e a forma como ele enxerga sua própria cidade. 

E, no final da última frase do livro, com um sorrisinho amarelo no canto esquerdo da boca, me vieram aquelas palavras que já se tornaram costumeiras. Ele passara em seu teste. 

1 comentários:

mm amarelo disse...

Nossa, não conhecia esse livro. Fiquei com muita vontade de ler. Tive uma experiência semelhante com "Coisas Frágeis", do Gaiman, que li, quase sem vontade, até que fui surpreendida com aquela narrativa incrível e quase indescritível dele. Tive a mesma sensação lendo seu texto, vou procurar "A voz do fogo". Li "Watchmen" e, sério, o que é aquilo? Aquela metalinguagem maluca? Incrível.
Abraços,
Maira

 
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